quinta-feira, 15 de abril de 2010

Despacha-te a nascer!

Os homens que nunca andaram com um barrigão enorme, não podem sequer imaginar qual é a sensação. É indescritível! Sentimo-nos redondas, inchadas, enormes, mal dispostas, a correr para casa de banho, enjoadas e cheias de fome ao mesmo tempo... Não há palavras para descrever o desconforto geral.
Para além do que sentimos fisicamente, há uma completa batalha a travar-se no nosso cérebro: "despacha-te a nascer!" e "deixa-te ficar aí para seres sempre só meu" foram 2 dos pensamentos que se degladiavam dentro do mim nas últimas semanas da gravidez. Fora parte o stress profissional, a verdade é que queria estar calma e curtir a dita cuja barriga e o pequeno monstro que lá se escondia, mas as ânsias e os nervos de não saber o que ia acontecer quando o bebé saísse não deixavam a minha pobre cabeça descansar.

Uma das coisas (entre outras) que ajudou bastante no processo chama-se curso de preparação para o parto (CPP). Ele há muitos, de muitas maneiras e feitios, dado por muita gente e em muitos locais, mais ou menos caros. Mas há uma certa tendência para aqueles que são gratuitos (os do centro de saúde e hospital) serem a horas que não lembra o diabo. É que uma estudante de mestrado (pré-bolonha) e bolseira de investigação em Lisboa vir ter o curso às 15h no Barreiro e voltar para Lisboa simplesmente não é possível. Ou seja, qualquer pessoa que trabalhe em Lisboa e viva no Barreiro, por ex., vê-se aflita para poder estar nesses cursos.
Então andei às voltas até encontrar um local, relativamente perto do trabalho de ambos, com horários pós laborais, que tivesse valores razoáveis e, principalmente, que seguisse o mesmo tipo de filosofia "naturalista" que nós. Aí conhecemos a "nossa" enfermeira obstetra e um conjunto de outros casais que, na sua maioria, estava ainda pior preparado para o que aí vinha do que nós.

Foi no curso que soubemos das diferentes fases do parto, das práticas que são "habituais" em Portugal e por esse mundo "civilizado" fora, que tendem a despachar o mais rápido possível essa coisa suja que é nascer. Nós mesmos fomos "vitimas" disso pois começamos a cair nas tabelas das sras enfermeiras dentro do "prolongamento da fase latente do trabalho de parto" que, segundo as "normas" não deve passar para além das 8 horas. No entanto, não fica claro da leitura dos manuais se não haverá situações que induzem esse prolongamento, como estar amarrada a uma cama pelos monitores de contracções e de batimento cardíaco fetal, em vez de deambular como toda a mulher, desde o inicio da humanidade, fez. O que interessa é que a sra que entra ainda na fase latente, por algum motivo, se despache a ter a criança! E para isso, nada melhor que a administração de uma "occitocinazinha" para ajudar a despachar a coisa.

Tenho para mim que, na maior parte dos casos, se as mulheres levarem um reforço positivo durante a gravidez (seja num CPP ou de outra forma) em que lhes seja incutido que elas conseguem parir virtualmente sem ajuda de ninguém, desde que ouçam e conheçam o seu próprio corpo, muita coisa seria evitada. Tenho para mim que a natureza fez-nos, fêmeas de mamíferos que somos, com a capacidade de parir em qualquer condição e que se temos os avanços médicos que temos, dêmos graças a Deus e utilizemo-los nos casos onde, de facto, fazem falta.

Os partos, principalmente de 1º filho, são demorado na esmagadora maioria dos casos e a baliza das horas é importante para se perceber se está tudo a correr bem, mas é de desconfiar se alguém está com muita pressa que o bebé nasça, sem dar justificação aparente ou dando uma justificação coxa. O mais provável é querer empurrar para uma cesariana, estar com pressa para ir almoçar ou para sair, que já acabou o turno.

O que leva também ao fantástico nascimento "por encomenda".
- Então dia 18, às 10 da manhã, está bom para si?
- Sim, sr dr.

E imaginem, anos mais tarde:
- Mãe, como é que eu nasci?
- Então, como o sr dr só fazia partos às 3ª e 5ª; nós marcámos para a 3ª, dia 18, às 10h. Além disso, estavas previsto para dia 29 de Dezembro, o que era uma chatisse porque ias estragar a passagem de ano. E uma semana antes era o Natal, por isso também não dava. Assim, nasceste com 15 dias de antecedência, que era quando dava jeito.

Que giro. Podemos ter filhos como encomendamos pizzas, na hora e momento certo em que queremos. Esqueçam a história de o bebé poder não estar preparado; esqueçam a ideia de que a mulher saber quando é que a sua criança vai nascer. O que interessa hoje em dia é se "dá jeito" ou não. Numa sociedade de consumo, de prazeres fáceis, isto será de espantar?

Eu cá prefiro saber que o meu filho nasceu quando quis, quando achou que estava preparado. E eu estava cá para o acolher, porque o queria e desejava independentemente do dia e da hora. E acredito que devia ser sempre assim, desde que nada haja contra.

Por isso, fora com o "despachar"! Viva(m) o slow!

:)

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