quarta-feira, 21 de abril de 2010

AI que DORES!

Um dos assuntos mais importantes, isto é, com o qual demoramos mais tempo, no CPP (curso de preparação para o parto) foi a dor ou, como eu costumo chamar, o MEDO da dor. Para a maioria das pessoas (incluindo os companheiros de CPP) é desconhecido que o parto tem 3 fases, que se deve andar para ajudar o bebé a encaixar e descer, que há variadíssimas formas de ajudar a suportar a dor das contracções, que entretanto se vão intensificando e aproximando.

Eu costumo dizer que as pessoas falam sempre em aguentar as contracções. Ora o que se "aguenta", guarda-se cá dentro. Para mim, as dores das contracções suportam-se e trabalha-se para que passem. Uma coisa tão simples como ficar na bola de partos já pode muito bem aliviar a dor e o desconforto das contracções iniciais. Mas o que mais me perguntaram no hospital não foi se eu queria uma bola de partos (a qual eu pedi e à qual tiraram o pó), uma massagem ou um banho quente; foi, isso sim, se eu queria drogas (epidural).


Entenda-se que não tenho nada contra a epidural. Aliás, agora conheço várias mulheres que tiveram experiências óptimas de parto com epidural. Fico feliz por elas. No entanto, o número de casos em que as experiências não foram assim tão boas, em que houve efeitos secundários adversos, é ainda assim grande. E eu estou só a falar dos nossos conhecimentos. Casos escabrosos e arrepiantes estão ao virar de cada blog, por isso não os vou descrever. Mas há que pensar que nos (poucos?) anos em que a epidural cá anda, não se fizeram estudos conclusivos quanto ao seu efeito no feto/criança nem na mãe.

Aliás, um dos exercícios do CPP era dar indicações de efeitos secundários da epidural e de outros métodos de alivio da dor (como aromaterapia, música, água, bola de partos, etc). Quem quiser pense um pouco no que sabe do assunto e com certeza arranja uns 5 efeitos secundários da epidural e talvez 1 (ou nenhum) em cada outro método.


A frase "Parir sem dor" tornou-se num lema de muitos hospitais que querem ver aumentar a taxa de natalidade dentro dos mesmos, advogando que as mulheres não precisam "passar pelas dores de parto", que ninguém quer "sofrer" com as contracções, que a tecnologia nos dá os instrumentos para que o parto seja mais "fácil" e só temos que os usar.
Eu digo que um óptimo slogan seria "Parir com respeito" em que a dor é apenas um dos aspectos do parto, importante como muitos outros... Ou até mais. Que tal perguntar à puérpera o que ela sente e deseja? Que tal haver monitores fetais portáteis para que a mãe possa sair da cama durante a fase activa? Que tal não canalizar logo uma veia e pôr a puérpera a soro, fazendo-a sofrer (aí sim, a bom sofrer!) com sede sabe-se lá quantas horas? Isso seria parir com respeito, e a mulher sentir-se-ia mais bem preparada para enfrentar as outras dores importantes.

Senão vejamos: já algumas vez viram um episódio do "Dr. House" em que ele trata de uma menina que tem um problema neurológico e não consegue sentir dor/es? É uma vida complicada, pois a cada manhã a rapariga tem de se ver ao espelho para ter a certeza de que não se mordeu durante o sono e está a sangrar; não pode praticar desporto pois pode partir ossos e não sente; tem de cozinhar com muito cuidado pois se se corta ou queima não saberá; enfim, imaginem todo o vosso dia a dia vivendo sem a consciência de que um acto pode magoar-nos e por isso temos de ter cuidado. Muita gente diria que seria uma vida fantástica porque não sofreria, mas quem viu o episódio de que falei sabe que a vida da rapariga era tudo menos fantástica.

As dores, por muito irritantes, más e irracionais que sejam têm uma função: indicam que se passa algo com o nosso corpo. Seja um dente cariado, falta de descanso ou que o bebé está pronto para nascer, as dores merecem ser sentidas e compreendidas porque quem conhece as suas dores, conhece o seu próprio corpo.

As dores das contracções são precisamente uma indicação de que algo está para acontecer, que é melhor a mãe preparar-se porque vai ter muito trabalhito pela frente. Mas não há que ter medo! Cada contracção que vem, é uma contracção a menos para o bebé estar cá fora. E sejamos sinceras: nunca em ocasião mais nenhuma sentiremos as contracções a não ser no parto dos nossos filhos. Porque não passar pela experiência?

Claro que há pessoas que têm uma fraca resistência à dor, e outras que conseguem suportar a dor mais facilmente. A verdade, para mim, é que qualquer que seja o caso, desde que haja um processo de mentalização no sentido do que se quer do parto, do que se espera, de até onde estamos dispostos a ir para ter essa experiência em pleno, então as contracções são suportáveis, "aguentam-se" bem e passam depressa.

É como tudo na vida: depende da perspectiva.

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