segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Upgrade para 3G

Passado que estão os primeiros 3 meses na vida do 3G, cá está a historia da sua chegada a este mundo, do lado de fora da barriga da mãe.

O primeiro sinal de que o dia chegara foi o romper da bolsa, de manhã, de forma muito subtil e suave. Ainda estava deitada quando, ao virar-me, senti liquido começar a escorrer. Pensei, como quase todas as mulheres devem pensar, se estaria a perder o total controlo dos esfíncteres, mas pela quantidade, cor e falta de cheiro, fiquei com a certeza de que era liquido amniótico. Fiquei super excitada e contente por finalmente ir ver o fofinho que andava a saltitar dentro de mim há 9 luas. Depois de verificar que estava tudo ok com o liquido e com o pequenote, resolvi voltar para a cama e descansar o máximo que conseguisse enquanto não vinham as contrações mais fortes.

Estas só começaram a aparecer depois dos manos mais velhos terem ido para a escola. Ele sabia que, agora sim, a mãe e o pai estavam 100% disponíveis para o receber. Entretanto as contrações que vinham eram bastante suportáveis e ainda com pouco ritmo. Tudo me fazia supor que iria ser um trabalho de parto demorado.

Com os headphones a ouvir Loreena Mackenitt, fui balouçando as ancas, ora em pé ora na bola de pilates, para ajudar o pequeno a encaixar. Sempre o senti bem, quase como se estivesse a dizer que estava feliz por ir sair de onde se sentia já tão apertado.
Entretanto ia trocando sms com a minha doula e com a minha mentora para me tranquilizar de algumas coisas. Também controlamos a tensão arterial e a minha temperatura para estarmos tranquilos em casa. A minha companheira de 4 patas não me deixou nem um bocadinho...



O pai almoçou descansado (eu não tinha muita fome. Apenas fruta e muita água) e acabou de tratar do que havia para tratar em casa para que fossemos para o hospital descansados. Primeiro pensei que talvez só devesse sair de casa depois das 4 da tarde para não apanhar a troca de turnos no HGO, mas pelas 13h as contrações tinham ganho ritmo e senti que não devíamos ficar em casa muito mais tempo. Ainda assim, saímos pelas 14h e qualquer coisa, já com contrações fortes e o meu pensamento a deambular pelas possíveis drogas que haveria à minha disposição no hospital e em como já me pareciam bastante apetecíveis.

Descer as escadas a perder liquido e com contrações não é agradável. Nem fazer a viagem entre Barreiro e Almada. Cada buraquinho ou pedrinha no caminho lançavam dores lancinantes e as contrações aumentavam 50 vezes de intensidade. Finalmente à porta do HGO, atravessar o átrio pé ante pé e entre contrações (devemos ter demorado uns 20 minutos num percurso que se faz em 5) e chegada à triagem já com gemidos durante as contrações. Mal passo a porta da triagem (agarrada à Sra do guichet porque o “pai não pode entrar”) a contração apanha-me de surpresa com vontade de fazer força. Daí até à marquesa da observação foi um turbilhão de emoções. “Já??? Não pode ser!! Espera bebé, ainda não estamos no sitio certo!!” A enfermeira fez e toque e confirmou que tinha a dilatação completa, com apenas um rebordo, Ouviu apenas o coração dele e confirmou também que ele estava bem. Ainda houve o compasso de espera de ver se o pequeno nascia logo ali na triagem ou se ainda chegava ao bloco e decidimos arriscar a viagem de cadeira de rodas até ao bloco. E foi uma viagem muito rápida.

Entramos na “box” da orquídea e pediram para eu subir para a marquesa, mas eu quis o banco. Prepararam o banco e, fazendo uso da “corda” que têm pendurada do tecto, pude finalmente fazer força com gosto (há um certo prazer em fazer força para o bebé nascer quando o corpo pede para fazer força!). Entre contrações sentia-o mais que descer; ele como que deslizava para fora. A enfermeira comentou isso mesmo, que ele estava a descer sem ajuda.



O pai, que entretanto tinha ido tirar o carro da entrada do hospital, chega mesmo a tempo. Sinto as mãos dele no meu pescoço e sei que estamos todos juntos. Faço força mais uma vez e a cabeça dele sai e quase que o resto escorrega atrás. A enfermeira começa a pedir desculpa, diz que vai ter de cortar. Eu fico preocupada e pergunto se é a mim que vai cortar, ao que ela responde que não, que “alguma vez lhe faria uma coisa dessas”, que é o cordão que é curto e tem um nó, pelo que precisa cortar.



Fê-lo e pouco depois a ultima contração fez com que o pequeno grande 3G deslizasse para o lado de fora de mim e para os meus braços. Quente, húmido, macio, a cheirar maravilhosamente, lavado no líquido que era abundante (não tinha vérnix quase nenhuma), fazendo uns barulhinhos adoráveis que nunca mais parou de fazer, como que a querer desde logo contar a sua historia e conversar com toda a gente.

 

Ficou pele com pele comigo durante hora e meia até que começamos a preparar para subir para o piso. Deu umas chupadelas nas maminhas (claro que às enfermeiras eu disse sempre que sim, que tinha mamado) mas ele queria mesmo era conversar. Pesado ao fim de uma hora, o veredicto foi 4290kg de gente.

Levei dois pontos (ainda perguntei várias vezes se valia mesmo a pena, mas disseram sempre que sim), aconselharam a levar oxitocina intramuscular depois da placenta sair para ajudar na contração uterina (não sei até que ponto ter levado ou não faria diferença, mas o pai foi de opinião de que era melhor e aceitei). De resto, não chatearam com mais nada, pelo contrário, pude ter refeições vegetarianas enquanto estive no puerpério, não houve picadelas por ele ser grande (apenas uma e foi enquanto ele mamava) e saímos para os manos finalmente conhecerem o bebé que estava escondido na barriga da mãe havia tanto tempo.

Eu acho que ele tem cara de do irmão mais velho. Vamos ver no temperamento a quem sai.
Seja como for, a sua chegada ao mundo foi rápida, intensa mas cheia de amor, carinho, respeito e alegria. Como deviam ser todas.

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