Passado que estão os primeiros 3 meses na vida do 3G, cá está a historia
da sua chegada a este mundo, do lado de fora da barriga da mãe.
O
primeiro sinal de que o dia chegara foi o romper da bolsa, de manhã, de
forma muito subtil e suave. Ainda estava deitada quando, ao virar-me,
senti liquido começar a escorrer. Pensei, como quase todas as mulheres
devem pensar, se estaria a perder o total controlo dos esfíncteres, mas
pela quantidade, cor e falta de cheiro, fiquei com a certeza de que era
liquido amniótico. Fiquei super excitada e contente por finalmente ir
ver o fofinho que andava a saltitar dentro de mim há 9 luas. Depois de
verificar que estava tudo ok com o liquido e com o pequenote, resolvi
voltar para a cama e descansar o máximo que conseguisse enquanto não
vinham as contrações mais fortes.
Estas só começaram a aparecer
depois dos manos mais velhos terem ido para a escola. Ele sabia que,
agora sim, a mãe e o pai estavam 100% disponíveis para o receber.
Entretanto as contrações que vinham eram bastante suportáveis e ainda
com pouco ritmo. Tudo me fazia supor que iria ser um trabalho de parto
demorado.
Com os
headphones a ouvir Loreena Mackenitt, fui balouçando as ancas, ora em pé ora na bola de
pilates,
para ajudar o pequeno a encaixar. Sempre o senti bem, quase como se
estivesse a dizer que estava feliz por ir sair de onde se sentia já tão
apertado.
Entretanto ia trocando sms com a minha doula e com a minha
mentora para me tranquilizar de algumas coisas. Também controlamos a
tensão arterial e a minha temperatura para estarmos tranquilos em casa. A minha companheira de 4 patas não me deixou nem um bocadinho...
O
pai almoçou descansado (eu não tinha muita fome. Apenas fruta e muita
água) e acabou de tratar do que havia para tratar em casa para que
fossemos para o hospital descansados. Primeiro pensei que talvez só
devesse sair de casa depois das 4 da tarde para não apanhar a troca de
turnos no HGO, mas pelas 13h as contrações tinham ganho ritmo e senti
que não devíamos ficar em casa muito mais tempo. Ainda assim, saímos
pelas 14h e qualquer coisa, já com contrações fortes e o meu pensamento a
deambular pelas possíveis drogas que haveria à minha disposição no
hospital e em como já me pareciam bastante apetecíveis.
Descer as
escadas a perder liquido e com contrações não é agradável. Nem fazer a
viagem entre Barreiro e Almada. Cada buraquinho ou pedrinha no caminho
lançavam dores lancinantes e as contrações aumentavam 50 vezes de
intensidade. Finalmente à porta do HGO, atravessar o átrio pé ante pé e
entre contrações (devemos ter demorado uns 20 minutos num percurso que
se faz em 5) e chegada à triagem já com gemidos durante as contrações.
Mal passo a porta da triagem (agarrada à Sra do
guichet porque o
“pai não pode entrar”) a contração apanha-me de surpresa com vontade de
fazer força. Daí até à marquesa da observação foi um turbilhão de
emoções. “Já??? Não pode ser!! Espera bebé, ainda não estamos no sitio
certo!!” A enfermeira fez e toque e confirmou que tinha a dilatação
completa, com apenas um rebordo, Ouviu apenas o coração dele e confirmou
também que ele estava bem. Ainda houve o compasso de espera de ver se o
pequeno nascia logo ali na triagem ou se ainda chegava ao bloco e
decidimos arriscar a viagem de cadeira de rodas até ao bloco. E foi uma
viagem muito rápida.
Entramos na “box” da orquídea e pediram para
eu subir para a marquesa, mas eu quis o banco. Prepararam o banco e,
fazendo uso da “corda” que têm pendurada do tecto, pude finalmente fazer
força com gosto (há um certo prazer em fazer força para o bebé nascer
quando o corpo pede para fazer força!). Entre contrações sentia-o mais
que descer; ele como que deslizava para fora. A enfermeira comentou isso
mesmo, que ele estava a descer sem ajuda.
O pai, que entretanto
tinha ido tirar o carro da entrada do hospital, chega mesmo a tempo.
Sinto as mãos dele no meu pescoço e sei que estamos todos juntos. Faço
força mais uma vez e a cabeça dele sai e quase que o resto escorrega
atrás. A enfermeira começa a pedir desculpa, diz que vai ter de cortar.
Eu fico preocupada e pergunto se é a mim que vai cortar, ao que ela
responde que não, que “alguma vez lhe faria uma coisa dessas”, que é o
cordão que é curto e tem um nó, pelo que precisa cortar.
Fê-lo e pouco
depois a ultima contração fez com que o pequeno grande 3G deslizasse
para o lado de fora de mim e para os meus braços. Quente, húmido, macio,
a cheirar maravilhosamente, lavado no líquido que era abundante (não
tinha vérnix quase nenhuma), fazendo uns barulhinhos adoráveis que nunca
mais parou de fazer, como que a querer desde logo contar a sua historia
e conversar com toda a gente.
Ficou pele com pele comigo durante
hora e meia até que começamos a preparar para subir para o piso. Deu
umas chupadelas nas maminhas (claro que às enfermeiras eu disse sempre
que sim, que tinha mamado) mas ele queria mesmo era conversar. Pesado ao
fim de uma hora, o veredicto foi 4290kg de gente.
Levei dois
pontos (ainda perguntei várias vezes se valia mesmo a pena, mas disseram
sempre que sim), aconselharam a levar oxitocina intramuscular depois da
placenta sair para ajudar na contração uterina (não sei até que ponto
ter levado ou não faria diferença, mas o pai foi de opinião de que era
melhor e aceitei). De resto, não chatearam com mais nada, pelo
contrário, pude ter refeições vegetarianas enquanto estive no puerpério,
não houve picadelas por ele ser grande (apenas uma e foi enquanto ele
mamava) e saímos para os manos finalmente conhecerem o bebé que estava
escondido na barriga da mãe havia tanto tempo.
Eu acho que ele tem cara de do irmão mais velho. Vamos ver no temperamento a quem sai.
Seja como for, a sua chegada ao mundo foi rápida, intensa mas cheia de amor, carinho, respeito e alegria. Como deviam ser todas.