quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Como o leite materno se transforma em água e a vaca passa a fazer melhor leite que o seu.

Eu acho que se você amamenta por um ano, alguém lhe deveria fazer uma festa. O melhor que eu pude fazer foi oferecer umas t-shirts comemorativas (ver aqui). Eu já dei mais t-shirts dos que as que posso contar e actualmente tenho uma lista (não tão actualizada como isso) para celebrar as mães que conseguiram manter esta "dupla do ano de idade" no meu site.

Então, com todas estas mães no meu consultório alcançando este objectivo, eu comecei a considerar fazer algo para reconhecer as mães que continuavam a amamentar aos 18 meses. Essas mães maravilhosas, que ganharam a t-shirt e os parabéns pelo primeiro ano diziam “Não, obrigada.” quando eu mencionei o que tinha em mente – elas não queriam que as outras pessoas soubessem. Elas amamentavam, mas não queriam reconhecimento público. Elas amamentavam “no armário” e estavam bem assim.

A revisão dos 12 meses é uma óptima oportunidade para falar dos benefícios de continuar a amamentar além do primeiro ano. Eu vou tentar dizer “amamentação prolongada” porque isso revela um viés cultural que existe onde eu vivo, mas talvez não onde você viva. Mundialmente, amamentar até os 2 ou 4 anos é simplesmente normal. E antes que o viés cultural interrompa a discussão, a política da Associação Americana de Pediatria no despacho "Amamentação e uso de leite humano" diz que “não existe limite para a duração da amamentação e não há evidência psicológica de prejuízo ao desenvolvimento devido à amamentação no terceiro ano de vida ou mais”.

Então, o que acontece aos doze meses? Bem, de acordo com a crença popular, no momento em que o seu lindo bebé amamentado dorme na noite anterior ao seu primeiro aniversário, o mundo transforma-se: no dia seguinte, eles descobrem que o leite materno já não serve. Eles descobriram que a vaca faz um leite melhor que a mãe. 

E como é que você faz com que uma criança de um ano que ainda não fala entenda isto? Eles contam continuar a receber o conforto, a expressão de amor e a maravilhosa nutrição que tinham no dia anterior. Qual é a magia daquele 366º dia da sua vida?
https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhMEiRh8bPcP8v8d66leW6sk2YXFlWHkucZx4R1XamUWAVGgickfea8IpMo4f5JZUUkNgaH0U0JyRKXRg0fYo6QeWqK9BUDTp0LbJKkTeggmCULXU3bhjunK_TIButhXMavvzMGd0qg-yhD/s320/IMG01578-20110509-836.jpg 

Agora a sério, eu sei que não faz sentido e que o bebé de um ano provavelmente fica confuso, mas eu conheço algumas mulheres maravilhosas que acreditam que mesmo que elas continuem a amamentar, os seus filhos vão precisar de um complemento de leite de vaca “para que recebam todos os nutrientes”. Eu posso morar no "Estado Paraíso dos lacticínios (EUA)", onde pessoas usam chapéus de queijo em público, mas o leite da vaca é para os bezerros. E como eu normalmente tenho essa conversa no meio de uma consulta de rotina, com a criança presente, geralmente faço um bom trabalho a convencer a família de que o meu exame clínico sugere que o seu filho não é um bezerro. 

Os componentes do leite materno que combatem as infecções continuam presentes: lisozima, lactoferrina, imunoglobulina (IgA) estão presentes em quantidades estáveis. Os níveis de proteína, cálcio e ácidos gordos de cadeia longa são mais baixos comparados com o leite de um bebê de 3 meses, mas não estamos a falar de bebés de 3 meses, que só se alimentam de leite materno. A criança de um ano já come alimentos complementares. Além disso, sabemos que mães que amamentam por mais tempo diminuem o seu risco de cancro de mama.

Eu compreendo. Muitas pessoas, incluindo muitos profissionais de saúde, não entendem porque é que você quer amamentar por mais de um ano. Mas não são eles que têm que acalmar uma criança de 15 meses a berrar. Eu só digo isto – se eu tivesse que escolher entre uma criança chorando que eu tenho que distrair e fazer feliz de alguma maneira, e uma criança chorando que eu posso dar mama e fazer feliz em 5 minutos, eu prefiro a segunda opção. 

Um dia, espero poder fazer algo pelas minhas amigas, as que amamentam “no armário”, e eu saberei que estarei a fazer algum progresso aqui no meu pedacinho de mundo. Talvez então nós possamos convencer o resto do mundo que amamentar um bebé de mais de um ano é normal. 


Jenny Thomas 

Pediatra membro da Associação Americana de Pediatria, membro do Comitê Internacional de Certificação de Consultoria de Aleitamento e da Academy of Breastfeeding Medicine. (www.drjen4kids.com)

Tradução de Bel Kock-Allaman; adaptação a Português europeu e revisão de Isabel Martins Loureiro

2 comentários:

Chuva disse...

Fabuloso!
Cheguei aqui através da HumPar, da qual já fui delegada distrital. Sou Doula, mas acima de tudo Mulher. Sou Mãe e amo a minha priofissão.
ATive de deixar de amamentar a minha 1ª Filhota com 1,5 mês (muito chorei eu!) e hoje amamento o meu 2º Filhote. Tem 19 meses.
Com ela usei mais o pano e com ele um pouco o sling. O carro é algumas alturas, sim.
Ambos os partos foram naturais, sendo que cheguei à maternidade, a 1ª vez, com 8cm e as águas rebentadas e da última com 1cm, que se transformou em 3cm em 5 horas e em dilatação completa passado uma hora, já com a bolsa rebentada por si mesma.
Muito bom "esbarrar" com este blog.
Voltarei mais vezes.
Adorei a descrição do parto do Gil e os temas e a forma como escreve é fabulosa.
Abraço-a,
Teresa

Chuva disse...

Apercebi-me, agora, da quantidade de erros... Lindo dicionário de sugestões do tablet e abençoado cansaço ;)
Nem referi o quanto amei (sim, é a palavra certa) a abordagem à amamentação e à qualidade do leite materno, após os "366" dias.
Quando chego 5 ou 10 minutos atrasada para dar consultas e comento que o meu filho demorou um pouco mais a mamar, perguntam-me a idade dele ou referem ser "recém-mamã". Ao dizer a idade dele, oiço cada comentário, assim como de colegas.
Como dizia alguém, há uns meses "as mamas são minhas e o filho é meu".
Suficiente, não?