Quer dizer, se tivesse insistido que os putos da creche comessem gelados e bolos ao lanche, todos os dias, eu percebia a reacção. Mas eu só pedi LEGUMES todos os dias à refeição!
Eu explico: primeiro dia de creche, certo? A mãe em lágrimas, o puto em lágrimas, mas vá que tudo vai correr bem e pronto, é a vida.
Volto para o apanhar à hora de almoço da criançada e até fico a dar uma mãozinha que isto de primeiros dias é um bocado complicado. E a "sopa" o que é?? Canja. Sim, daquela com massa e pedaços de carne e pele a boiar numa água engordurada. A única coisa verde era uma folhita de hortelã. Bem bom, pensarão alguns amigos que até comem duas tijelas da mistela, assim a haja no bar da faculdade. Pois....
Mas e o 2º pratinho dos meninos, o que era? Então, esparguete com almôndegas. Aiiii! Então a "sopa" não é sopa (desculpem mas o meu conceito de sopa não abrange massa e carne em água) e o prato é massa com carne?? Mas isto é sempre assim?
Vai esta mãe à secretaria e pergunta como é a ementa para o resto da semana. Aí vem a lenga lenga da sopa de espinafres, de nabiça, de cenoura. Muito bem, mas hoje foi canja. Onde estão os legumes? Resposta: "Como é segunda feira não há sopa de legumes porque não há legumes". O QUÊ??
Então a "directora pedagógica" quis impingir-me que a ementa, feita por uma nutricionista (não querendo ofender ninguém, mas já repararam que há cursos de nutrição à venda na net??) inclui um dia em que não há pinga de verdura ao almoço de crianças do 1 aos 5 anos de idade!! Porque não há verduras à 2ª feira!!! Ora, façam-me o favor de não insultar a minha inteligência!!
Pois minha querida, o meu filho TEM de comer verdura a todas as refeições, por isso se quiser ele trás de casa a sopinha dele. "Ah, mas isso é complicado. Oh mãe, é só um dia!! Pode sempre carregar nos vegetais à noite!"....
TÁ-ME A ACHAR COM CARA DE PARVA?? Então os médicos recomendam que se coma NO MÍNIMO 5 porções de verduras e fruta TODOS os dias, vocês na refeição do meio do dia não põem nada e ainda me mandam "carregar" de verduras a refeição da noite?! Estão a gozar, mas de certezinha!!!
Resultado: fica o compromisso de que o meu piqueno come a sopa dos menores de 12 meses (essa sim, tem sempre verdura, não sei vinda de onde pois se à 2ª feira não há....) e depois come o prato com os restantes. Não é um grande compromisso, mas é o que há.
Pergunta: O que fará esta directora pedagógica no dia em que lhe aparecer à frente um menino de família hindu ou budista? Ou mesmo um judeu ou um muçulmano? Também vai tapar o sol com a peneira com os pais? Também vai dizer para cumprirem as tradições e imposições religiosas só à noite?? Eu compreendo que um infantário não tenha de ter refeições à escolha de cada criança, ainda mais se é IPSS. No entanto, nos dias que correm, cada vez mais se deve apostar na diversificação alimentar. Aliás, se não fosse pelo preço e pela distância, se calhar o nosso pequeno ia comer esta ementa. Será que é assim tão mais caro para a escola fazer uma refeição de tofu? E colocar mais vegetais? Tenho de mandar mail a perguntar qual é a/o nutricionista deles.
E mais. Vejam esta notícia:
"De acordo com o Ministério da Educação, a legislação prevê que os estabelecimentos de ensino forneçam dietas próprias a alunos com restrições alimentares medicamente comprovadas, mas o próprio secretário de Estado da Educação, Valter Lemos, admitiu recentemente à Lusa que algumas escolas não estejam a cumprir. "As escolas têm obrigação de providenciar as condições para que a criança ou o jovem tenha essa alimentação [alternativa]. Mas admito que nem todas as escolas no país tenham condições para o fazer", afirmou na altura.".
Portanto a lei obriga, mas as escolas têm é de pensar na contenção orçamental, enquanto as "esquisitices" dos pais que até querem ter uma alimentação mais saudável e livre de hormonas e antibióticos fica para segundo plano.
Ou seja, o que eu vou fazer é ir ao médico e dizer-lhe, "Se faz favor, drª, passe-me uma declaração em como o meu filho precisa de comer vegetais a todas as refeições.". Vamos ver se assim já passa a haver legumes à 2ª feira!
São VEGETAIS, caramba!! Não são caramelos!! :P
segunda-feira, 4 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
A galinha e o ninho*
A expressão mãe galinha é fascinante. Principalmente quando já observámos a dita cuja em acção. De facto podia ser mãe loba, mãe leoa, mãe égua ou mesmo mãe golfinha, mas a verdade é que todas as progenitoras, nos primeiros tempos de vida das crias, não as largam nem um bocadinho. E a nossa espécie não é excepção. No entanto, quem quer ficar mais um tempinho a cuidar da cria humana, é chamada mãe-galinha....
O que eu acho engraçado é que, numa sociedade em que até há bem pouco tempo as mães ficavam em casa para cuidar dos filhos, se tenha passado para o oposto tão dramaticamente e sem dó nem piedade. Por exemplo, se uma pessoa até pensa que é correcto amamentar em exclusivo até aos 6 meses de vida, além de ser apelidada de louca, é impedida pela lei que só permite que as mães tenham 120 dias de licença de maternidade (paga a 100%). Vão me dizer que agora a lei mudou e que vai até aos 6 meses. Puro engano de quem não aprofundou a coisa: só há essa hipótese se receber apenas 80% do vencimento e partilhar a licença com o pai, que se contentará a dar o leite do bebé que a mãe tirar com a máquina e congelar.
E a licença de amamentação? Outra aventura! São 2 horitas por dia até a criança perfazer 1 ano, mas que quase ninguém goza porque os patrões e chefes não vêem com bons olhos a "colaboradora" chegar mais tarde e sair mais cedo durante esse tempo. O abuso....
Eu até encontrei uma solução que, no meu entender, beneficiava toda a gente: 4 dias a trabalhar a tempo inteiro e juntava as 8 (!) horas devidas à amamentação num dia só, o que permitia uma grande liberdade para tratar de assuntos diversos, ir ao médico com o petiz, dar uma limpeza na casa, enfim, o que tinha de ser feito quando não se tem empregada e os 2 dias do fim-de-semana não dão para tudo. Pois... durou uns meses. Aquando da renovação do contrato foi posta a questão "ou deixa essa história, ou o contrato não é renovado". O que se há-de fazer? A malta não vive só com 1 ordenado! Lá se enfiou um direito pelo cano e puxou-se o autocolismo.
É claro que não estamos mal, considerando outros países no resto do mundo (http://en.wikipedia.org/wiki/Parental_leave#Europe). De reparar que nos Estados Unidos da América, a licença de maternidade é 0 (zero) semanas.
No entanto, há os antípodas que são os nossos vizinhos europeus:
- Republica Checa - 2, 3 ou 4 anos de licença de maternidade, paga 100%;
- Áustria - 1 a 3 anos, paga 100%;
- Eslováquia - 3 anos, acrescido de mais 3 se a criança for deficiente. O estado paga 256€ por mês nos primeiros 2 anos, passando a 164,22€ daí em diante;
- Suécia e Noruega - 16 meses de licença paga, obrigatório que no mínimo 2 desses meses sejam gozados pelo progenitor minoritário (grosso modo, o pai);
- Estónia - 18 meses de licença paga;
- Bulgária - 1 ano de licença paga a 100%, o 2º ano pago ordenado mínimo;
- Eslovénia - 1 ano de licença paga a 100%;
- Dinamarca - 52 semanas (13 meses) mas 2 semanas têm de ser gozadas pelo pai;
- Reino Unido - 52 semanas (13 meses) de licença de maternidade ou adopção, das quais 39 semanas (cerca de 10 meses) pagas na totalidade e o restante tempo segundo uma taxa fixa.
- Irlanda - 6 meses pagos a 100%.
Eu disse que não estavamos mal, mas como eu acho que nos temos sempre de comparar com o que é melhor e não o contrário, então acho que podíamos estar bem melhor.
Claro que há sempre o argumento de que há nesta lista países com impostos muito superiores, que há outros países desenvolvidos (Alemanha e Holanda, por ex.) que têm o mesmo tempo de licença de maternidade que nós. E eu pergunto: eles estão contentes com isso?
Basta ver o que se passa na Alemanha para perceber que não (http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1991216,00.html).
Com o estado das coisas em Portugal, ou seja, aumento de impostos e supressão de "abono de família" para quem, como nós, se situa miraculosamente nos escalões mais altos da Segurança Social (embora tenhamos IRS com apenas 1 a receber), então acho que só quem se safa são os mais ricos e os mais pobres, uns porque não precisam dos subsídios, os outros porque têm fracas noções de controlo de natalidade e recorrem a vários subsídios que os vão conseguindo manter à superfície. Creio que muito em breve a situação demográfica por cá também comece a entrar num estado crítico.
Então a classe média, como é que fica? Nos 1.5 filhos por família, a tentar desenrascar e esticar o único ordenado certo que entra em casa todos os meses, e a lamentar que esse mesmo ordenado não dê para que a mãe fique em casa com a cria e a tenha de deixar aos cuidados de avós e creches.
Podemos não ser galinhas, mas não somos exemplo para mais nenhuma espécie.
*desabafo de quem vai levar o filho pela primeira vez à creche, amanhã.
O que eu acho engraçado é que, numa sociedade em que até há bem pouco tempo as mães ficavam em casa para cuidar dos filhos, se tenha passado para o oposto tão dramaticamente e sem dó nem piedade. Por exemplo, se uma pessoa até pensa que é correcto amamentar em exclusivo até aos 6 meses de vida, além de ser apelidada de louca, é impedida pela lei que só permite que as mães tenham 120 dias de licença de maternidade (paga a 100%). Vão me dizer que agora a lei mudou e que vai até aos 6 meses. Puro engano de quem não aprofundou a coisa: só há essa hipótese se receber apenas 80% do vencimento e partilhar a licença com o pai, que se contentará a dar o leite do bebé que a mãe tirar com a máquina e congelar.
E a licença de amamentação? Outra aventura! São 2 horitas por dia até a criança perfazer 1 ano, mas que quase ninguém goza porque os patrões e chefes não vêem com bons olhos a "colaboradora" chegar mais tarde e sair mais cedo durante esse tempo. O abuso....
Eu até encontrei uma solução que, no meu entender, beneficiava toda a gente: 4 dias a trabalhar a tempo inteiro e juntava as 8 (!) horas devidas à amamentação num dia só, o que permitia uma grande liberdade para tratar de assuntos diversos, ir ao médico com o petiz, dar uma limpeza na casa, enfim, o que tinha de ser feito quando não se tem empregada e os 2 dias do fim-de-semana não dão para tudo. Pois... durou uns meses. Aquando da renovação do contrato foi posta a questão "ou deixa essa história, ou o contrato não é renovado". O que se há-de fazer? A malta não vive só com 1 ordenado! Lá se enfiou um direito pelo cano e puxou-se o autocolismo.
É claro que não estamos mal, considerando outros países no resto do mundo (http://en.wikipedia.org/wiki/Parental_leave#Europe). De reparar que nos Estados Unidos da América, a licença de maternidade é 0 (zero) semanas.
No entanto, há os antípodas que são os nossos vizinhos europeus:
- Republica Checa - 2, 3 ou 4 anos de licença de maternidade, paga 100%;
- Áustria - 1 a 3 anos, paga 100%;
- Eslováquia - 3 anos, acrescido de mais 3 se a criança for deficiente. O estado paga 256€ por mês nos primeiros 2 anos, passando a 164,22€ daí em diante;
- Suécia e Noruega - 16 meses de licença paga, obrigatório que no mínimo 2 desses meses sejam gozados pelo progenitor minoritário (grosso modo, o pai);
- Estónia - 18 meses de licença paga;
- Bulgária - 1 ano de licença paga a 100%, o 2º ano pago ordenado mínimo;
- Eslovénia - 1 ano de licença paga a 100%;
- Dinamarca - 52 semanas (13 meses) mas 2 semanas têm de ser gozadas pelo pai;
- Reino Unido - 52 semanas (13 meses) de licença de maternidade ou adopção, das quais 39 semanas (cerca de 10 meses) pagas na totalidade e o restante tempo segundo uma taxa fixa.
- Irlanda - 6 meses pagos a 100%.
Eu disse que não estavamos mal, mas como eu acho que nos temos sempre de comparar com o que é melhor e não o contrário, então acho que podíamos estar bem melhor.
Claro que há sempre o argumento de que há nesta lista países com impostos muito superiores, que há outros países desenvolvidos (Alemanha e Holanda, por ex.) que têm o mesmo tempo de licença de maternidade que nós. E eu pergunto: eles estão contentes com isso?
Basta ver o que se passa na Alemanha para perceber que não (http://www.time.com/time/world/article/0,8599,1991216,00.html).
Com o estado das coisas em Portugal, ou seja, aumento de impostos e supressão de "abono de família" para quem, como nós, se situa miraculosamente nos escalões mais altos da Segurança Social (embora tenhamos IRS com apenas 1 a receber), então acho que só quem se safa são os mais ricos e os mais pobres, uns porque não precisam dos subsídios, os outros porque têm fracas noções de controlo de natalidade e recorrem a vários subsídios que os vão conseguindo manter à superfície. Creio que muito em breve a situação demográfica por cá também comece a entrar num estado crítico.
Então a classe média, como é que fica? Nos 1.5 filhos por família, a tentar desenrascar e esticar o único ordenado certo que entra em casa todos os meses, e a lamentar que esse mesmo ordenado não dê para que a mãe fique em casa com a cria e a tenha de deixar aos cuidados de avós e creches.
Podemos não ser galinhas, mas não somos exemplo para mais nenhuma espécie.
*desabafo de quem vai levar o filho pela primeira vez à creche, amanhã.
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